Metafilosofia III: contra o apriorismo radical


February 11, 2023

Eu venho pensando em um argumento aparentemente eficaz e muito simples contra a ideia de que a filosofia não tem elementos empíricos. Em outras palavras, quero rebater a ideia de que filosofia e ciência são estritamente separáveis, o que vou chamar aqui de apriorismo radical. Realmente não sei quem seriam os representantes contemporâneos dessa proposição, mas sem sombra de dúvidas um dos expoentes históricos dessa perspectiva é Wittgenstein. Então vou partir do que um wittgensteiniano diria:

“Todas as proposições filosóficas são gramaticais”—o que para ele quer dizer que tais proposições explicitam uma regra, não são uma descrição de um estado de coisas. Não importa muito o que ‘gramatical’ quer dizer aqui, mas sim que é não-empírico. Note que essa é uma posição metafilosófica. Até aí tudo bem. Mas como se pode falar sobre todas as proposições filosóficas? Ou mesmo a maioria delas? Só há um jeito: conhecê-las, lê-las, ouvi-las, etc. Fazer uma lista e, com essa lista em mãos, marcar um ‘x’ do lado das que são descritivas e um ‘v’  do lado das que são gramaticais. Ou qualquer coisa que o valha. Vamos supor que um sujeito com recursos cognitivos infinitos fez isso tudo e chegou a conclusão de que sim, todas elas são gramaticais. Moral da história: ele fez pesquisa quantitativa. Trivialmente, pesquisa quantitativa é empírica. Esse sendo o caso, a única maneira de verificar a proposição metafilosófica inicial é empírica. Se o único modo de decidir uma questão metafilosófica em favor do apriorismo radical é empírica, então o apriorista radicalizado forçosamente comete uma contradição performática. Ou ainda: se essa questão metafilosófica possui um elemento empírico ineliminável, então a fortiori questões filosóficas de primeira ordem possuem elementos empíricos inelimináveis (essa última é uma inferência mais arriscada, mas eu acho que passa).


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